Os números complexos são muito úteis na
Aerodinâmica. Joukowski (1906), utilizando transformações geométricas,
construiu uma curva fechada no plano complexo que representa o perfil de uma
asa de avião (aerofólio de Joukowski) e, usando o princípio de
Bernoulli (1738) e a teoria das funções complexas, deduziu a fórmula
F = x + yi = -iei(VkL) ,
que permite calcular a força de levantamento
responsável pela sustentação do voo de um avião. Os números complexos
permitiram uma explicação matemática para o voo. Daí em diante o progresso
aeronáutico foi rápido.
|
Na eletrônica e na eletricidade, a análise de circuitos de corrente alternada é feita com a ajuda de números complexos. Grandezas como a impedância (em ohms) e a potência aparente (em volt-ampère) são exemplos de quantidades complexas.
A impedância é o número complexo
Z = R + jX, ou na forma polar Z = |Z|(cos +jsen), onde
j2 = -1 , é o ângulo (argumento) de defasagem entre a tensão
aplicada e a corrente no circuito, |Z| é o módulo, R é a resistência elétrica
(em ohm) e X é a resultante (em ohm) das reatâncias indutivas e capacitivas do
circuito. Na Física e na Engenharia é usado, como número imaginário, o j no
lugar do i para evitar confusão com o i de corrente elétrica.
A potência aparente (em volt-ampère) é o número complexo P = Pr + jPx, ou, P = |P|(cos +jsen), onde j2 = -1 , |P| é o módulo, é o ângulo de defasagem entre a tensão e a corrente, Pr é a potência real ou ativa (em watt), Px é a potência reativa (em volt-ampère reativo). O valor do cos (fator de potência) é importante na determinação do aproveitamento da energia que está sendo gasta.
Os procedimentos (algoritmos)
recursivos (iterativos ou recorrentes) no plano complexo criaram na maioria das
vezes figuras invariantes por escala denominadas fractais. Estas formas
geométricas de dimensão fracionária servem como ferramenta para: descrever as
formas irregulares da superfície da terra; modelar fenômenos, aparentemente
imprevisíveis ( teoria do caos ), de natureza meteorológica, astronômica,
econômica, biológica, etc. Von Koch (1904) e Julia (1910), foram os pioneiros
no nascimento dessa nova matemática (ou será nova arte?).
Henon (1974) estudou o sistema Xn+1
= 1 - Yn - a(Xn)2 e Yn+1 = bXn.
Foi observado que, dados a, b, Xo, Yo, variando n (n =
0,1,2,3, ...) e representando o par (Xn , Yn) no plano
complexo, independentemente dos valores iniciais Xo e Yo,
os caminhos numéricos descritos pelos pares ordenados (Xo , Yo),
(X1 , Y1) , (X2 , Y2) , ... , (Xn
,Yn) repetiam-se, formando hexágonos deformados. Ampliando seu
conjunto de trajetórias (vários Xo e Yo) e
representando-as juntas no plano complexo, Henon produziu uma figura enigmática
que chamou de "Gingerbreadman".
Mandelbrot (1975) estudou a
equação Xn+1 = (Xn)2 + Z , onde Z = a + bi, i2
= -1 e n = 1 , 2 , 3 , ... . Através de um programa recursivo de computador (um
programa em loop), variou Z e o computador imprimiu na tela os pontos Xn+1.
Constatou que, para cada valor de Z uma figura era impressa na tela. Ampliando
as figuras descobriu que continham cópias aproximadas de si mesmas
(auto-semelhança).
Hubbard (1979) resolveu a equação
polinomial do quarto grau x4 - 1 = 0 no computador, usando o método
de Newton (1711) estendido para raízes complexas. Ao mapear a maneira pela qual
o método leva, de diferentes valores iniciais xo, a uma das quatro
soluções, produziu também geometria fractal. Os fractais permitem
desenhar (ou modelar) qualquer coisa (ou fenômeno) da natureza numa tela de
computador (computação gráfica), tudo isto graças ao corpo dos números
complexos.